Um movimento, um organismo eclesial, será tanto mais fértil, frutuoso e fecundo na vida da Igreja quanto mais próximo ele permanecer de seu carisma original, de sua identidade.
A identidade de um seguimento, de um movimento, de uma graça, de uma nova expressão eclesial deve revelar em sua constituição aqueles (ou aquele!) elementos que traduzem a sua originalidade – a sua razão de ser.
Não se trata, obviamente, de uma originalidade absoluta, mas, antes, de uma novidade relativa, que visa colocar em relevo algum aspecto da graça da salvação que Deus esteja querendo acentuar em determinado momento da história. A isso se deve a eleição, a vocação específica, o chamado propriamente dito para se colocar em marcha algum Seu propósito.
A identidade do neo-pentecostalismo católico – ou da renovação carismática –, não se fundamenta primordialmente em uma espiritualidade de feições renovadas, ou em uma reflexão teológico-pastoral de tinturas que a aproximam do pentecostalismo protestante, ou ainda nas premissas de um “movimento” de carismas, de oração, ou de novas comunidades...
A renovação carismática (nome discutível!) que vem emergindo no seio da Igreja Católica há 4 décadas – e é bom que se diga, que começou sem nenhum planejamento humano – haure toda a sua identidade, toda a sua razão de ser, de uma experiência. Uma experiência não apenas religiosa, mas de Deus. E uma experiência cristã de Deus... Uma experiência de sentido!
Na centralidade da experiência cristã que a Renovação Carismática Católica faz de Deus encontra-se aquilo que se identifica essencialmente com o que a Bíblia descreve como sendo as conseqüências manifestadas na vida daqueles que foram batizados no Espírito Santo. Pois “se trata de uma experiência que muda a vida das pessoas”, afirmava Karl Rhaner...
A essa mudança na qualidade de vida das pessoas em conseqüência de uma nova experiência de fé é que se convencionou chamar nos últimos tempos de batismo no Espírito. (que, assim, de forma substantivada, não aparece na Sagrada Escritura). Mas que pode também ser chamada – essa experiência – de ser cheio do Espírito Santo, nova vinda do Espírito Santo (no sentido tomasiano, para quem já o recebeu antes), derramamento do Espírito ser mergulhado (“batizado”) no Espírito Santo –, entre outras expressões...
Conquanto valorize a presença dos carismas em seus serviços (ministérios), o exercício deles para a edificação da Igreja, o empenho pelo estabelecimento de uma cultura de Pentecostes, e a prática da espiritualidade de Pentecostes (que é universal, e pode estar a serviço de todas as outras espiritualidades), a Renovação Carismática Católica não pode – por mais nobre e ortodoxo que possa parecer – fundamentar sua práxis a partir do que quer que seja que não leve em conta, primordialmente – e de maneira muito explícita e bem cultivada – a experiência da efusão do Espírito, (que, aliás, precisa ser permanente, cf. CIC 667). Pois, para muitos cristãos, o fato de terem o Espírito (batizados que foram) não faz de suas vidas uma vida no Espírito. Isto é, não estão cheios do Espírito Santo. Mas todos os cristãos são convidados a entrar nessa dinâmica de encher-se progressivamente dele (cf. Ef 5,18). E a vida (como a dos apóstolos e a de tantos na história do cristianismo), muda...
A vida daquela figueira na vinha (Lc 13,6-9) será sempre muito apreciada se ela produzir cada vez mais – e melhores – figos! Caso ela passe a produzir uvas, será muito estranho aos olhos de Deus (que não a plantou ali para “fazer o que todo mundo já faz...”). Mas também se ela insistir em não produzir nada, poderá ouvir do Senhor: “Jamais nasça fruto de ti!” (cf. Mt 21,18-20)... Ou seja, não basta termos recebido de Deus a capacidade de produzirmos frutos... É preciso que efetivamente os produzamos...
Evangelizar é obra de todo e cada operário na vinha do Senhor. Mas cada um deve fazê-lo segundo o dom, o carisma recebido, segundo a identidade que lhe é própria. Há, sim, muita coisa em comum, a ser vivenciada por todos. Mas há uma tarefa específica para a qual o Senhor nos vocaciona, que, ainda que não deva ser entendida como um monopólio, deve ser abraçada como ofício próprio, como graça profética genuína a ser colocada a serviço de toda a comunidade, de toda a Igreja...
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